Por Sthefaniy Henriques*
O ano é 1918, a primeira guerra mundial está a pouquíssimas semanas de ter seu fim e a pandemia da gripe espanhola se aproxima da sua segunda onda mortal. Em meio a dois drásticos eventos, uma jovem mulher, filha de imigrantes alemães e na espera do marido retornar da guerra, sonha em se tornar uma estrela após assistir Palace Follies no cinema.
Pearl, entretanto, não é um filme sobre uma protagonista que vai em busca do sonho de ser tornar uma atriz de cinema. Contrapondo a grande tendencia da década, Pearl (Mia Goth) deseja torna-se uma corista.
O que chama atenção, no entanto, é que seu icônico grito ‘‘Please, i’m star’’(Por favor, eu sou uma estrela) é marcado pelo termo ‘‘star (estrela)’’, expressão que começa a abranger novas artes e pessoas a partir de 1910. O termo que antes, segundo Eileen Bowser, se limitava aos artistas de teatro, ópera e vaudeville, após 1910 e, principalmente, durante a entrada dos Estados Unidos na Primeira Guerra, também agregará estrelas de cinema.
De acordo com Samantha Barbas, a popularização das estrelas de cinema ocorrerá devido a própria disseminação do cinema. Mais do que apenas artistas, Barbas defende que tais pessoas se tornaram ‘‘educadoras’’, fornecendo lições sobre personalidade, estilo, modos e aparência em uma sociedade em transformação.
Pearl, é claro, não está isenta do impacto do cinema e das novas estrelas, por mais que não fosse seu sonho ser atriz. Oferecendo provas mais concentras da proximidade de Pearl com filmes, o nome de seu crocodilo é Theda em homenagem a atriz do cinema mudo Theda Bara, consagrada pelo filme Escravo de Uma Paixão (1915). Inclusive, quando Pearl vai ao cinema assistir a Palace Follies, outro filme em cartaz é o épico Cleópatra (1917), também estrelado por Theda.
Com o nítido indicativo de que Pearl era figurinha carimbada no cinema de sua cidade, ela se tornará uma vítima indireta de um dos primeiros movimentos de Hollywood e seu negócio de vender sonhos, promover paixões, estrelas e a ideia de que você pode se imaginar no lugar da protagonista através do consumo, como bem resume Barbas ‘‘(…) assistir as histórias das mulheres sortudas que conseguiram, que se transformaram de garotas de cidade pequena em rainhas do cinema’’. Nesse ponto, o mundo fantasioso, quase escapista, em que Pearl vive será, em parte, uma consequência do que começava a se estruturar na indústria do cinema estadunidense, ganhando camadas mais extremas devido aos traços de psicopatia da jovem.
Pearl vai para além do campo da imaginação, para ela não basta apenas se manter como espectadora e portadora de um desejo, Pearl busca ser igual as dançarinas que ver no cinema, Pearl quer ser uma estrela e vai através desse sonho a qualquer preço, afinal, Hollywood mostrou que era possível.
*Estudante de História pela Universidade Federal Fluminense e crítica de cinema. Por meio da página E O Cinema Levou (@eocinemalevou) no Instagram, discute a relação da História com o Cinema a partir de filmes.