A Poesia de Airton Tomazzoni Através de Dentro do Olho do Peixe

Tomazzoni é escritor, jornalista, roteirista e doutor em Educação pela UFRGS. Frequentou as Oficina de Criação Literária com o escritor Luiz Antônio de Assis Brasil e tendo atuado na Coordenação do Livro e Literatura, da Secretaria Municipal de Cultura. Tem roteiros premiados no concurso Histórias Curtas da RBS TV, além de organizar e publicar obras junto ao Instituto Estadual do Livro (IEL) e de manter um perfil de crônicas no Instagram, @cronicamente_ e no @dentrodoolhodopeixe

Seu livro Dentro do Olho do Peixe reúne em suas 106 páginas 80 histórias do ponto de vista de quem olha o mar e seus habitantes, tentando entender o mundo terreno, seus desafios e contradições.

A seguir, leia na íntegra a entrevista que Tomazzani concedeu para o TemQueVer.

 TemQueVer: Do que se trata o livro? 

Tomazzoni: Dentro do olho do peixe é uma coletânea de pequenas narrativas que trazem a perspectiva de desse universo animal para a existência humana com sua imperativa racionalidade com suas lógicas de afetos, comportamentos, valores e convicções. É um exercício poético de alteridade para perceber e (re)conhecer esse mundo que habitamos. Uma abertura para a reflexão e imaginação a partir da condição existencial dos peixes.

TQV: Como foi escrever o livro?

T: Esse livro foi literalmente um divisor de águas, pois foi meu retorno à escrita literária depois de muito tempo dedicado à crítica cultural, ensaios e produção mais técnica. Ao mesmo tempo foi uma escrita libertadora na qual pude deixar de lado alguns paradigmas que me intimidavam e seus formalismos e apostar em textos curtos, contos, minicontos, uma prosa poética ou mesmo como sugeriu o professor Luís Augusto Fischer em parábolas contemporâneas. Eu deixei de publicar por muito tempo por não saber exatamente o que eu escrevia e nessa obra me permiti apenas partilhar essa escrita e que já me trouxe o retorno de tantos leitores e tantas leitoras, o que me interessa muito, afinal sou um artista de coletivos teatrais, de dança e de cinema e a literatura é por vezes um ato tão solitário. Enfim, Dentro do olho do peixe é uma experimentação, uma descoberta e uma partilha que era necessária pra mim.

TQV: Qual a relação do autor com o Litoral Norte do RS?

T: Minha relação com o Litoral Norte é antiga, de muitos veraneios em Tramandaí, Cidreira, Imbé e Quintão. Meus avós tinham um terreno em meio às areias de Cidreira e depois veio a casa.  São muitas lembranças, dos primeiros mergulhos, a vontade de nunca descer das dunas, de aprender com meus avós a pegar mariscos e tatuíras, as caminhadas ao nascer do sol pela beira da praia, de curtir os ventos constantes e até o mar “chocolatão”. Sempre me senti muito próximo do litoral, mesmo nos invernos menos convidativos. E sempre acalentei o desejo de morar próximo ao mar, dessas paisagens, da gente que eu me sentia tão identificado, desse lugar que nos convida a um outro tempo, a um outro compasso. E isso se tornou realidade com a escolha de uma residência em Imbé e que me fez querer atuar de forma mais efetiva na cultura do litoral podendo trabalhar na produção literária e no acionamento dos imaginários que esse contexto todo promove e convida.

TQV: Quem é o autor?

T: Acho que sou alguém como o do poema de Manoel de Barros: “Prefiro as linhas tortas como Deus. Em menino eu sonhava de ter uma perna mais curta (Só pra poder andar torto).” Acho que sou torto na vida e gosto disso ou aprendi a gostar. A paixão pela escrita me levou ao cinema e à dança, o que poderia ser improvável. Sou um autor curioso de tudo, distraído quase sempre, encantado com as estranhezas e as pequenezas que nos cercam, inquieto por natureza, que gosta dos avessos, de duvidar e crer na devida medida e de imaginar mundos possíveis, menos desumanos e mais poéticos talvez.

A. Tomazzoni.

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