Por Álvaro Nicotti*
O que devemos perceber é que toda essa complexidade do tempo presente em que estamos vivendo e, principalmente, em relação as questões políticas, socias e econômicas internas do Brasil, são em grande parte consequências do golpe de 2016.
Todo golpe remodela as estruturas de poder e redefine a política de estado adotada pelos governos (tudo isso, é claro, modelado e adaptado ao contexto geopolítico). Foi assim em 1824, no golpe do Dom Pedro I ao proclamar independência; em 1891, no golpe militar que originou a república da espada; no golpe de Getúlio Vargas para instituir o Estado Novo, com o argumento de “reajustar o organismo político às necessidades econômicas do país”; e o golpe militar de 1964 que resultou numa ditadura.
Logo em seguida ao golpe de 2016 e passado as primeiras medidas econômicas de remodelação (reforma trabalhista, teto dos gastos, previdência e privatização do pré-sal) a melhor alternativa para se garantir a continuação desta reformulação foi colocando um fascistinha miliciano tupiniquim no poder. Um indivíduo com o discurso do homem médio raivoso. Um verdadeiro líder de coringas melancólicos espalhados por todo Brasil. Esse cara era Jair Bolsonaro.
Mas Bolsonaro por muito tempo era problema. Um Clow, como agora é chamado Milei, atual presidente da Argentina. Não se podia continuar com um presidente que transformou o país num pária e, lógico, colocava a acumulação de renda de setores da nossa economia em perigo. Então, o que fazer?
Chama o Lula! Com judiciário com tudo!
Lula teria que fazer uma frente ampla, pois a tropa dos coringas, lideradas por pseudos pastores, o fascistinha miliciano tupiniquim e alguns pontuais empresários e ruralistas mequetrefes da nossa economia, havia saído do controle.
Mas com uma frente ampla dava pra ganhar do Bolsonaro e seus coringas. Em com uma frende ampla, Lula ficaria refém do Centrão em muitos aspectos.
Lembrando que o Centrão é um conjunto de partidos políticos sem identificação ideológicas, com origem e enraizado em todos os cantos do país. Suas lideranças são pessoas influentes nas economias locais e regionais onde são de origem, e vão para a política para lutar pelos seus interesses pessoais e de grupos de afinidade.
Pois bem, neste final de 2024 é possível ver a consolidação do Centrão como a “nova” força política no pós golpe de 2016 e muitas consequências desse controle de poder são visíveis:
Em São Paulo, a população reelegeu um prefeito que privatizou a luz para um ente ao qual um dos donos é um outro governo: o italiano. Por lá (São Paulo), da uma chuvinha e o pessoal fica sem luz por uma semana. Outro comprador da antiga estatal de energia paulista foi o estado chines. Este, agora explora as bandas do Rio Grande do Sul querendo instalar linhas de transmissão em Áreas de Preservação Ambiental.
Em Porto Alegre, os bairros mais atingidos pela maior enchente da história da cidade deram a vitória a Sebastião Melo, o prefeito displicente e seguidor do fascista miliciano tupiniquim. Após reeleito, seu filho e vereador da cidade, foi exposto pela investigação do Ministério Público em mais um caso de corrupção na educação da capital do RS.
Além disso, empreendedores da cidade cobraram a conta da eleição de Melo, logo em seguida a sua vitória, como o caso do Grupo Zaffari. Esta família pretende construir um prédio de 130 metros no bairro Menino Deus. Não pode, pois é proibido pelo plano diretor. Mas a administração do prefeito Melo vai deixar, pois é Centrão e dispensa maiores explicações. A novidade aqui, é a exposição do Grupo Zaffari como uma empresa adepta a ações ilícitas e corruptas (assim como toda a sua turma – Melnik Even, Goldstein, Panvel, Grupo Mãe de Deus, RBSTV e Gerdau)
Já no Litoral Norte, após um grande engajamento da população contra uma obra criminosa da empresa privada Aegea de saneamento, o povo elegeu justamente prefeitos engajados em grupos políticos que apoiam a Aegea na região. Esta empresa está construindo emissários que despejarão esgoto na bacia do rio Tramandaí, provindos de condomínios de luxo das cidades de Capão da Canoa e Xangri-lá
Contudo, não foi só em Porto Alegre, São Paulo e Litoral Norte do RS que o Centrão ganhou. Foi na maioria das cidades brasileiras. De norte a sul. De leste a oeste.
Mas o que o Centrão ainda não sacou, muito menos os ditos progressistas da nossa sociedade, é que a tropa dos coringas não está vencida. Pelo contrário: explodem suas cabeças para atingir juízes carecas e contam, para nenhum espanto dos mais lúcidos, com militares de boina preta que conspiram em seus quartéis, testando qual melhor veneno para se colocar na sopa de um presidente desavisado.
*Professor, pesquisador e editor do site TemQueVer