Ataque dos Cães

Nesta produção cinematográfica, baseada no livro “the Power of the dog”, publicado em 1967 por Thomas Savage, temos a história de dois irmãos ricos, proprietários de terra no estado de Montana, EUA. Um deles é Bill (Benedict Cumberbatch), um home frio, bruto, cruel e carente de sentimentos, enquanto o outro irmão, George (Jesse Plemons), é o oposto se mostrando a gentileza em pessoa.  A relação dos dois irmãos se transforma bruscamente quando George se casa com um a viúva local chamada Rose (Kisrten Dunst), trazendo sentimentos de inveja e vingança à trama.

Este é um filme que arrisco dizer que, em questões técnicas, é quase perfeito. Dividido em capítulos, prende o espectador do inicio ao fim e, o mais importante, traz a luz temas relevantes que, embora a história se passe no início do século passado, são extremamente pertinentes para o debate nos dias de hoje. Assim, é nesta perspectiva que pontuo algumas abordagens relevantes do filme, que podem passar na tangente da análise do grande público por, talvez, serem ofuscadas pelo brilhante e controverso final que a obra apresenta.

Alcoolismo Feminino

Um dos temas importantes que Ataque dos Cães nos mostra é o alcoolismo feminino. É visível o desenvolvimento da doença na personagem de Kirsten Dust e o quanto se torna descontrolado seu modo de beber. Podendo trazer interpretações errôneas de que o fato dela beber pode estar relacionado ao inferno que Bill transforma sua vida, importante trazer relatos de especialistas, como este do médico Drauzio Varella:

O metabolismo do álcool nas mulheres não é igual ao dos homens. Se administrarmos para dois indivíduos de sexos opostos a mesma dose ajustada de acordo com o peso corpóreo, a mulher apresentará níveis alcoólicos mais elevados no sangue… Por essas razões, as mulheres ficam embriagadas com doses mais baixas e progridem mais rapidamente para o alcoolismo crônico e suas complicações médicas.

Outro detalhe importante acerca do alcoolismo feminino é o fato de a maioria se embriagar em casa. No filme é claro o seu modo de beber doméstico, mas hoje em dia não é tão diferente. Segundo artigo intitulado “alcoolismo feminino: um estudo de suas peculiaridades”, de Beatriz A. L. Cesar, os resultados das entrevistas feita por ela endossam a bebedeira dentro de casa por parte das mulheres, quando afirma que 90% declararam beber no âmbito da esfera privada e diferenciaram esse comportamento do beber na esfera pública.

Masculinidade tóxica

Mais um tema muito importante que Ataque do Cães traz é a masculinidade tóxica. E este tema fica bem claro ao destacar o comportamento machista para com o filho de Rose, aparentemente com trejeitos “afeminados”. Não obstante, o filme consegue fazer uma narrativa brilhante de inversão de impressões, ao insinuar que Bill é gay e que sua crueldade e frieza nada mais é do que uma defesa frente a sociedade machista da época (já pensou um vaqueiro rico gay?).

Olhar histórico

Por fim, aspectos históricos da formação da sociedade estadunidense não fogem ao olhar crítico. Passando-se no primeiro quarto do século XX, já é percebido o cenário de vitória da colonização branca que se priorizou avançar a oeste dos EUA durante o século XIX. A mendigagem indígena por peles da fazendo do vaqueiro rico e a cena da Maria Fumaça cortando o deserto trazendo os pais de Bill e Geoge, de forma maestral, ilustram a vitória colonialista.

Ataque dos Cães (The Power of the Dog)

Direção: Jane Campion

Ano: 2021

Disponível na Netflix

 

 

 

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