DIVINO AMOR

A partir do ano de 2016, o Brasil reconfigurou sua agenda política, direcionando suas intensões neoliberais na economia e reacionária na cultura, na sociedade e nos costumes. Isso se tornou possível devido a uma coalizão de forças conservadoras que, embora contraditórias entre si de forma parcial, se completam em pontos essenciais. Essas forças são identificadas como:

  • Os neoliberais que estão profundamente comprometidos com mercados e com a liberdade enquanto “opção individual”.
  • Os neoconservadores, que tem a visão de um passado edênico e quer um retorno à disciplina e ao saber tradicional.
  • Os populistas autoritários– fundamentalistas religiosos e evangélicos conservadores que querem o retorno a (seu) Deus em todas as nossas instituições.
  • Membros de uma fração particular da nova classe média de gerentes e profissionais qualificados

Contudo, o neoconservadorismo se destaca por ser uma força nova e relevante dentro desta coalizão tensa. Define-se por ter uma visão romântica do passado. Um passado em que o “verdadeiro saber” e a moralidade reinavam supremos, onde as pessoas “conheciam o seu lugar” e em que as comunidades estáveis, guiadas por uma ordem natural, protegiam-nos dos estragos da sociedade.

Divino Amor, excelente obra de ficção do cineasta Gabriel Mascaro, retrata bem o contexto neoconservador na sociedade. A obra ilustra um possível cenário em um futuro próximo, com a consolidação de um projeto de poder liderado por igrejas neopentecostais.

O filme é um retrato ficcional do Brasil em 2027. Nesse futuro imaginado, nosso país é predominantemente evangélico. Um evangélico neopentecostal, triunfalista, individualista e adepto da teologia do domínio.

O filme inicia, sob a narração de uma voz infantil, em uma celebração tipicamente neopentecostal, com luzes, música moderna, dança, ambiente típico de uma rave. A voz infantil situa o tempo e explica que o carnaval não é mais a festa principal do país – foi substituída por uma festa gospel chamada de “festa do amor supremo”.

Essa mudança revela uma das bandeiras do neopentecostalismo histérico: a imposição de uma cultura cristã sobre qualquer outra cultura não-cristã. Essa é a base da teologia do domínio, uma doutrina de prática antiga, que começou nos primórdios do cristianismo e foi ressuscitada pelo movimento neopentecostal no século 20.

Um baita filme que nos remete a reflexões pontuais. Uma obra que desnuda a hipocrisia e incentiva o questionamento ao projeto de poder das igrejas neoconservadoras e o que realmente Jesus Cristo quis passar de valor para a humanidade.

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