Elementos e a Ciência em Espaços Educativos

Por Álvaro Nicotti*

Toda produção cinematográfica pode ser analisada sob diversas perspectivas. Pode ser uma simples opinião acerca do filme ou uma crítica cinematográfica bem fundamentada, a partir da linguagem do mesmo. Pode ser uma análise comparativa a algum tema de relevância social ou uma ferramenta metodológica educativa para ser debatida em alguma sala de aula.

Neste texto, apresento Elementos, da Disney/Pixar, sob um viés educativo. Mais do que isso, faço uma abordagem a partir do que é percebido sob a ótica da ciência da natureza e dos fenômenos químicos. É uma análise que parte do seu contexto histórico, identifica a relevância para a ciência moderna, explica sua importância nos espaços de aprendizagens e, claro, relaciona tudo isso com a animação.

Hoje em dia, temos na tabela periódica 118 elementos químicos, que vão desde o abundante e cósmico hidrogênio, ao cobiçado ouro, o perigoso urânio e o recentemente descoberto Unonócio. Um conjunto de elementos que, juntos e misturados, formam tudo que existe na Terra e no universo. Porém, quanto mais a ciência tenta desvendar os seus segredos, mais questionamentos quanto a sua natureza, vão aparecendo.

Mas nem sempre foi a ciência que buscou responder os mistérios da natureza, através dos elementos químicos e suas combinações e misturas. A alquimia e seus magos ambiciosos contribuíram muito, mesmo sem a intenção, em apresentar para a humanidade, algumas unidades de matérias que, hoje em dia, são consideradas fundamentais para a nossa saúde e a existência do universo.

Na idade média, os alquimistas eram conhecidos e responsáveis pela busca da transformação de toda e qualquer matéria em ouro. Eles acreditavam que, se misturassem os ingredientes certos, na quantidade certa e na temperatura certa, o ouro poderia ser o resultado encontrado. Além disso, alguns mais audaciosos, pensavam que essa combinação de fatores poderia originar na pedra filosofal, ou seja, no elemento fundamental da vida eterna. Contudo, os alquimistas não faziam ciência, pois não compartilhavam suas descobertas com os seus pares e a comunidade.

No entanto, foi numa dessas buscas por riqueza e prestígio que um elemento químico super famoso foi descoberto: o fósforo. O alquimista e mercador alemão Henning Brand, em 1669, na tentativa de descobrir ouro e a pedra filosofal, reuniu 50 galões de urina no porão da sua casa e foi adicionando substância químicas de forma arbitrária. A pasta formada pela mistura foi submetida por Henning a um processo de destilação. Os vapores gerados, que eram para se transformar em ouro, foram dispersos no ar, deixando no fundo do recipiente uma pedrinha branca que, ao contato com fogo, explodiu.

O interessante aqui é imaginar toda essa experiência no porão do Henning, sem não problematizar o provável fedor do ambiente.

Agora, vamos sair do ambiente mal cheiroso e de tempos de pouca higiene (a Europa nessa época estava recém lidando com os conhecimentos de prevenção a doenças) e vamos retroceder para o período da Grécia clássica. A Grécia de Aristóteles. A Grécia dos elementos fundamentais do universo. Nesta época, os pensadores acreditavam que os elementos químicos eram terra, água, fogo e ar e que, através do frio, do calor, da umidade e da “secura”, geravam tudo que existia no universo. Hoje em dia, há quem acredite que seja isso mesmo, inclusive filmes e animações trabalham muito bem essa questão, como o simpático e querido Elementos, da Disney/Pixar.

Elementos conta a história de Faísca, representante do elemento fogo, que no início da sua juventude, vive os dilemas e (des)sabores da passagem da vida adolescente para a adulta. Questões desde seu futuro profissional, relação com sua família e a paixão por Gota, representante do elemento água.

Tudo isso, tendo como cenário a Cidade Elemento, uma grande metrópole que abriga todos os seres configurados nos quatros elementos, como o garoto Turrão (terra) e a supervisora Névoa (ar).

Mas o que chama a atenção, sob o ponto de vista de quem escreveu este texto até aqui, são as abordagens científicas em diversas cenas. Curiosidades, características e experimentos, que muitas vezes são realizados em sala de aula, foram visualizados em muitos momentos de Elementos. É coerente afirmar aqui que é possível dialogar com a ciência vendo essa simpática animação, além de readequar experimentos com os quatros elementos em todos os espaços educativos.

Mas também é possível ver a sutileza inadequada da má alimentação industrializada estadunidense (e mundial), em uma simples cena de um todinho sendo consumido por um bebê árvore. Mas isso é uma outra história e um outro debate e que não ofusca a emotiva e agradável animação. Por sinal, pode ser um ótimo programa para pais, mães e responsáveis assistirem com seus pequenos.

A seguir, dois experimentos que fazem alusão a duas cenas de Elementos

Experimento do copo e a vela

1 Vela

1 Copo

1 Prato pequeno com um pouco de água dentro

Quando colocamos o copo em cima da vela a quantidade de oxigênio fica limitada, pois a água impede o ar de entrar no copo. Quando o fogo consumir todo o oxigênio de dentro do copo, a chama se apaga, e a água aumenta seu nível. Isso acontece, pois o O2 é combustível do fogo. Quando ele é todo “queimado” pela chama da vela, esta se apaga e o gás oxigênio sede espaço para água, que aumenta seu espaço de ocupação.

Em Elementos, é possível visualizar esse fenômeno quando faísca percorre uma tubulação cheio de água numa bolha de ar feita por Névoa

Experimento da Lupa e os raios de sol

1 Lupa

1 Fósforo

1 pedra lisa

Este experimento deve ser feito num dia de sol e na presença de um adulto

Sob a pedra, coloque o palito de fósforo. Após, pegue a lupa e direcione os raios de sol de forma centralizada na cabeça do fósforo.  A lupa converge os raios solares que incidem sobre ela, para um único ponto chamado foco da lente, gerando bastante calor e fazendo com que o mesmo acenda.

Na cena em que o amor de gota e faísca é colocado em dúvida, o mesmo se utiliza desta mesma técnica para acender o incenso do amor

*Professor, pesquisador e editor do site TemQueVer

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