Um filme de Alexandre Derlam
Por Leila Silveira*
Neste momento onde todos filmes parecem prontos para serem mastigáveis, assisto Ferrolho. Um filme para ver com atenção, qualquer piscada pode deixar passar a percepção, que não é dada de pronto.
O diretor, mergulhou nos sentidos do personagem, mostrando que é possível extravasar sem palavras e arrepiar no vazio, nas distâncias, no âmago do debate interior.
Para quê palavras se tem o olhar, beirando o pedido de socorro de quem assiste?
Cinema arte, quase poético, com ótima atuação do ator Ângelo Sérgio, parece arrancar da gente, as palavras que não são pronunciadas.
A temática do filme é sobre ausências? Ou demência? Ou seriam todas as modernas questões do ser humano, que descobre ser absolutamente solitário, em seus temas mais fundamentais, como pensar, lembrar e a eterna necessidade de ser amado.
A trilha, bem conduzida do Marcelo Corsetti e atuação de Ângelo Sérgio, que já tinha assistido em Highlander, que também trabalhou na produção, compõem o conjunto da obra, mostrando que o diretor está buscando outros desafios na sua carreira.
É preciso destacar as locações, escolhidas com apuro e a fotografia, que dá o distanciamento na medida. O filme é bem sucedido, fazendo a junção, na trama, do exterior com o interior do personagem.
Propositalmente quero evidenciar precioso integrante: Bebeto Alves. Um universo inteiro de emoção e parceria com Alexandre Derlam e equipe, amigos desde muito, trocas desde sempre. Ressaltar sua obra imensa, é chover no molhado, falar que foi um dos seus últimos trabalhos, remete ao eterno do cinema. Sempre descobrindo, sempre misturando as artes,(no presente, porque Bebeto se faz presente). Seu legado musical segue, instigando e inspirando.
Ferrolho.
A história é introspectiva e enigmática, despertando o imaginário de quem assiste. Mas pensando bem, quem consegue decifrar o ser humano?
*Atriz, roteirista e produtora cultural com atuação destacada no audiovisual. Assinou roteiros de curtas-metragens exibidos internacionalmente, como A Sra. da Bicicleta (2021), apresentado no Brazilian Film Festival em Chicago e em espaços culturais no Brasil. Atuou e escreveu o espetáculo Tapete Vermelho (2018) e roteirizou o documentário Lorena em Todos os Tons (2020). Em 2024, participou como atriz em Histórias Estranhas 2, de Ricardo Ghiorzi. É secretária do Colegiado Setorial de Cinema e Artes Audiovisuais no Conselho Municipal de Cultura de Canoas e coordena o Ponto de Cultura Ciranda, onde desenvolve o Cine Ciranda, uma sala itinerante e acessível de cinema.