No dia 14 de março de 2018 a vereadora Marielle Franco (PSOL) foi assassinada pela milícia carioca. Um crime que ilustra bem a estatística de que a cada 23 minutos no país um negro é morto de forma criminosa.
No Brasil, os casos de homicídio de pessoas negras (pretas e pardas) aumentaram 11,5% em uma década, de acordo com o Atlas da Violência 2020, divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). Ao mesmo tempo, entre 2008 e 2018, período avaliado, a taxa entre não negros (brancos, amarelos e indígenas) fez o caminho inverso, apresentando queda de 12,9%.
Na avaliação dos especialistas que produziram o documento, os números deixam transparecer o racismo estrutural que ainda perdura no país. “Um elemento central para a gente entender a violência letal no Brasil é a desigualdade racial. Se alguém tem alguma dúvida sobre o racismo no país, é só olhar os números da violência porque traduzem muito bem o racismo nosso de cada dia”, diz a diretora executiva do FBSP, Samira Bueno.
Indo mais além da pertinente constatação do racismo estrutural que infecta a sociedade brasileira, trazemos aqui o conceito de Necropolitíca, cunhado pelo professor filósofo Achille Mbembe. Segundo Mbembe, o mundo contemporâneo assiste os Estados, ditos soberanos, decidirem quem “deve” viver e quem pode morrer e ser deixado ao acaso. Políticas públicas são negligenciadas paras as minorias, os corpos são meros objetos passíveis de destruição e a morte passa a ser banalizada e naturalizada para aqueles que vivem à margem da raça branca ocidental. Segundo o próprio filósofo:
“a expressão máxima da soberania reside, em grande medida, no poder e na capacidade de ditar quem pode viver e quem deve morrer. Por isso, matar ou deixar viver constituem os limites da soberania, seus atributos fundamentais. Exercitar a soberania é exercer controle sobre a mortalidade e definir a vida como a implantação e manifestação de poder.”
Falando especificamente do filme M8- quando a morte socorre a vida, o mesmo revela o racismo estrutural e a necropolítica dentro de um suspense interessante que nos amarra, indigna e sensibiliza até o final.
Dirigido por Jeferson De, a trama traz o estudante Maurício que acaba de entrar na renomada Universidade Federal de Medicina. Na sua primeira aula de anatomia ele conhece M8, o cadáver que servirá de estudo para ele e os amigos. Durante o semestre, o mistério da identidade do corpo só poderá ser solucionado depois que ele enfrentar suas próprias angústias.
Disponível na Netflix