Meu Casulo de Drywall (Crítica)

Por Sthefaniy Henriques*

Quando recebi o convite para assistir Meu Casulo de Drywall, o que mais me chamou atenção foi justamente seu título, porém, confesso que só consegui pensar sobre ele ao fim do filme. Diante de tudo que foi apresentado, ‘‘casulo’’ não está relacionado ao amadurecimento, a chegada de uma nova fase de vida, mas a um local protegido. E Drywall, relaciona-se a construção, pois é uma placa de gesso utilizada em ambientes internos. Assim, o casulo é uma metáfora para uma proteção que não vem de uma metamorfose, mas de uma construção, que, neste caso, será o condomínio para classe média alta em São Paulo.

Neste condomínio, há câmeras para todos os lados e todos os moradores possuem acesso a elas. No filme, uma personagem justifica que é para a segurança dos moradores, mas, aos poucos, se torna perceptível que o que deveria proteger, causa inúmeros problemas e conflitos. E, apesar de proteger, protege apenas as áreas comuns, onde as aparências e bons modos precisam ser perceptíveis.  Dentro do próprio casulo, nos apartamentos, ninguém sabe o que acontece.

O desconhecimento do que ocorre nos apartamentos, especificamente no apartamento onde Virginia mora, é o que conduz toda narrativa. Desde os primeiros minutos, temos conhecimento do quão sufocada Virginia é pela sua mãe, mas o pior ainda está por vir. Virginia morrerá, mas ninguém saberá como, nem porquê. Ela morrerá dentro dos muros do seu condomínio, em seu apartamento, Virginia morrerá em seu casulo.

A proteção que não protege, a incerteza do que aconteceu no apartamento, é levado para a maneira no qual a diretora, Caroline Fioratti,  constrói seu filme. Desse modo, existe uma narrativa que funciona como um quebra-cabeça e esse quebra-cabeça só é possível de ser montado, quando nos deparamos com adolescentes tão quebrados e sufocados quanto Virgínia.  Assim, Fioratti, apesar de investir muito no drama, também investe em uma abordagem que se comunica com o mistério. Os jovens recapitulam o que aconteceu na noite anterior para chegar a alguma conclusão, porém, suas narrativas individuais nunca são efetivas o suficiente. Dessa maneira, o filme apresenta suas respostas combinando as perspectivas, mudando continuamente o personagem em foco.

De certo modo, Meu Casulo de Drywall me remete a Twin Peaks, pois, assim como Laura Palmer, a personagem Virgínia também se dissolve e abre espaço para personagens suspeitos, que sabem de algo ou fizeram algo contra Virgínia. No entanto, o próprio ato de fazer algo contra a Virgínia ou a própria suposição disso, recai em dramas vividos pelos próprios jovens, como a omissão da homossexualidade, agressões físicas, dependência em remédios e pensamentos terroristas. O filme também cria uma narrativa no qual todos esses problemas, que são de terceiros, afetem também a Virgínia e podem estar associados a sua morte. Desse modo, na maior parte do tempo, o filme tem uma excelência em nos envolver justamente dessa maneira, apresentando seus amigos como suspeitos.

Apesar de eu não gostar de algumas decisões, como as feridas visíveis-invisíveis de Virgínia e a chamativa presença de Caco Ciocler, Meu Casulo de Drywall é muito eficiente em sua proposta de drama, de mistério e, principalmente, em criar uma boa narrativa para sua metáfora, que está em seu próprio título.

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*Formada em História pela Universidade Federal Fluminense e crítica de cinema. Por meio da página E O Cinema Levou (@eocinemalevou) no Instagram, discute a relação da História com o Cinema a partir de filmes.

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