O Golpe de 2016 em Cena e o retorno implacável do Centrão

O Impeachment e o empoderamento do Centrão

Por Álvaro Nicotti*

No ano de 2016, o Brasil viveu mais um golpe político. Criou forma nas manifestações de junho de 2013, consolidou-se como  impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) e expôs discursos ideológicos agressivos em milhares de pessoas. A sociedade brasileira se polarizou e o debate político tornou-se comum em diversos espaços. Muitos atribuíram a questões econômicas, mas o golpe esteve relacionado aos interesses de classes sociais. Neste sentido, envolveu a elite financeira, que comanda os grandes bancos e os fundos de investimentos, a classe média conservadora e as classes populares. Segundo o historiador Marcos Napolitano: 

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À medida que a ruptura da classe média com o petismo foi crescendo, alimentada sistematicamente pela imprensa de direita, a crise ideológica ficou mais aguda. Os deslizes morais do partido e suas lideranças deram o lastro que faltava ao discurso tosco e desconexo do conservadorismo. Permitiram que se escondesse uma crítica elitista atrás do bom combate a moralidade pública.

Foi neste contexto que no dia 31 de agosto o senado aprovou o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Esta data, portanto, fica conhecida como o dia do golpe parlamentar- jurídico- midiático. Um golpe que se deu por um amplo acordo de interesses, reeditando o “velho acordão brasileiro”, entre as diversas elites, agora comandada pela elite financeira. Um acordo que visou romper o sistema democrático representativo, após três vitórias consecutivas de uma frente de governo eleita democraticamente.

Este acordo foi elaborado pelas diferentes forças elitistas do país, definas por jessé Souza da seguinte maneira:

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A elite financeira, a mídia- sob comando da TV Globo-, o parlamento comprado e a casta jurídica se unem e decretam o fim do governo eleito. Com o golpe consumado, todos os interesses que se articulam partem direto para a rapina e para o saque do espólio. Vender riquezas brasileiras, o petróleo a frente, cortar os gastos sociais, posto que vale agora é apenas o interesse do 1% mais rico, e fazer a festa da turma da “privataria”.

Foi então que, omitindo o discurso elitista no combate ao fim da corrupção e trazendo identificação ideológica para parte da sociedade brasileira, mais precisamente para a classe média conservadora, é que o grosso dos ingredientes para o golpe foram para panela. O que faltava era um líder que este setor da sociedade pudesse chamar de seu. E é neste ponto que entrou o juiz Sérgio Moro, homem responsável por conduzir a operação jurídica policial denominada Lava Jato.

Um juiz de primeira instância que realmente assumiu como justiceiro privado a Lava Jato, tomando medidas ilegais e inconstitucionais. E aqui é que se nota o caráter conservador do sistema, pois ele não foi disciplinado por irregularidades que cometeu, como por exemplo, grampear o telefone da presidente. Quer dizer é um escândalo o que se passou. Por outro lado, obviamente que é totalmente seletivo, porque nunca houve tanta luta contra a corrupção como nos governos do PT. A corrupção obviamente atingiu sobretudo o PSDB e o MDB, mas a seletividade da investigação esteve sobretudo em cima do Lula e da Dilma e de algumas pessoas do PT.

Além dos interesses de classes que se tornaram principal fator interno para a consumação do golpe jurídico- parlamentar- midiático, o cenário internacional teve seu “lugar de fala”. O papel dos Estados Unidos neste processo, é fundamental se registrar. Não se pode deixar de entender o que se passou no período do golpe (e se passa até o presente momento) sem uma ação desestabilizadora estadunidense. Os EUA têm feito muita força para que os homens, sim homens, de fato, todos brancos, que estão do lado deles assumam o poder o mais rápido possível. Fundamentalmente com o objetivo principal de neutralizar o Brasil como um dos protagonistas dos BRICS. Os BRICS são uma ameaça extraordinária para os EUA, porque os EUA são uma economia em dependência que se aguenta fundamentalmente porque detêm importante capital financeiro e, portanto, por aceitação universal do dólar.

Assim, com um golpe brando executado com sucesso e um governo interino aplicando o projeto econômico do candidato derrotado nas urnas nas eleições de 2014, que a agenda política no país se modificou. Somado a isso, a forte interferência norte americana tutelada pela operação jurídica- policial Lava Jato, com evidentes indícios de falta de imparcialidade e por ser seletiva em suas ações, é que se concretiza a vitória do candidato de extrema direita nas eleições de 2018: Jair Bolsonaro. Um candidato com fortes traços fascistas.

A volta por cima do Centrão: A velha política do Brasil e do Litoral Norte do RS

Passados 10 anos do golpe de 2016, as forças políticas envolvidas neste processo de retrocesso para o Brasil, foram se acomodando igual a morangas se acomodam em caminhão de verdureiro, que passa toda semana de veraneio, nas cidades do litoral norte do RS. Mas a maior das morangas e a que ficou com o melhor lugar no caminhão, foi a que se chama Centrão. Mas afinal, o que é o Centrão?

O Centrão é um conjunto de partidos políticos sem identificação ideológicas, com origem e enraizado em todos os cantos do país. Suas lideranças são pessoas influentes nas economias locais e regionais onde são de origem, e vão para a política para lutar pelos seus interesses pessoais e de grupos de afinidade.

Como comprovação do poder do Centrão no ano de 2024, vamos analisar as eleições municipais. Das 26 capitais, 20 delas os partidos do Centrão estão na liderança e são apontados como favoritos para vence-las. A chamada “esquerda”, tem chance em apenas quatro capitais.

Aqui no município de Imbé, cidade onde eu resido, o cenário político se repete. Aqui, não podemos afirmar que existe uma disputa de projeto entre direita e esquerda. O que temos é o Centrão.

Afinal, o que existe aqui são pessoas, grupos, coletivos, redes e setores em busca de poder e vantagem.

Que filme posso assistir sobre o assunto?

Democracia em Vertigem (2019)

Direção: Petra Costa

Disponível na Netflix

*Professor da rede pública do RS e mestre em Dinâmicas Regionais UFRGS

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