Texto de Álvaro Nicotti*
Ilustrações de Maria Cecília Matos Dal’toé*
Era uma vez um macaquinho muito engraçado. Todas as crianças adoravam ir ao zoológico para ver suas caretas e as incríveis piruetas que ele fazia nos galhos de sua árvore. Quando chegavam no espaço onde o macaquinho ficava, tudo se tornava uma verdadeira festa. Não que os outros animais do zôo fossem sem graça, nada disso. O fato é que a verdadeira estrela era realmente o pequeno macaco.
Tendo sua vistosa árvore como palco, ele fazia o seu show: pulava de galho em galho, descia ao chão, voltava à árvore e depois ao chão novamente. E tudo isso era um espetáculo e tanto.
– Esse macaquinho é o melhor que eu já vi! – dizia um menino.
– É o mais fofinho! – dizia uma menina.
O que ninguém sabia é que o macaquinho, quando o zôo fechava, se tornava um animal muito infeliz. Não porque vivia em uma jaula; afinal era bem tratado e já se acostumara com o lugar onde nasceu. A razão de sua tristeza eram suas orelhas. Ele as achava muito grandes e feias. Diante de seu reflexo no grande pote de água de seu espaço, toda noite se lamentava:
– Ah, como eu queria que minhas orelhas fossem menores…
E tanto ele sofria com isso que, certa feita, um mago vestido com uma linda roupa vermelha e com uma incrível barba branca que ia até seus joelhos, surgiu para conversar com o triste macaquinho:
– Vejo que você está triste com suas grandes orelhas… então vim lhe convidar para um passeio mágico. Talvez possamos resolver seu problema…
– Que legal! Sim, me leve! É o que mais quero!
Diante da alegria do macaquinho, o velho mago sorriu. E, em um passe de mágica, logo ambos se viram em um lugar muito, muito estranho e distante…
– Bem-vindo ao País das Orelhas, caro macaquinho! Gostaria de dar uma olhada?
– Sim! É claro que quero! Assim poderei ver qual par de orelhas melhor combina comigo!
No País das Orelhas, só haviam orelhas e mais nada. O macaquinho, sempre a pular, não se continha de felicidade em meio a tantas opções. Indo para lá e para cá, alegre e saltitante, o pequeno macaco experimentava uma por uma. Sempre com o velho mago ao seu lado, pacientemente esperando sua escolha. Até que finalmente o macaquinho, com novas e discretas orelhas em sua cabeça, disse:
– Pronto! Podemos voltar para o zôo?
– Claro, vamos lá.
Eis que, na manhã seguinte, quando as crianças chegaram ao espaço do macaquinho, este começou a fazer todo seu grandioso espetáculo; porém desta vez com muito mais entusiasmo graças ao seu novo par de orelhas. Acontece que nenhuma criança deu bola para ele. Pouco a pouco, por mais que se esforçasse, as crianças foram se dispersando. E o pior de tudo foi ver a onça pintada, algumas jaulas ao lado, se tornar o centro das atenções da criançada.
Com isso, o macaquinho ficou muito triste. Então, durante a noite, ele pediu para o mago retornar para levá-lo novamente ao País das Orelhas. Afinal, as crianças não haviam gostado das que ele havia escolhido na visita anterior. O bom mago vermelho, como não poderia deixar de ser, não negou-lhe o pedido mais uma vez.
E mais uma…
E mais outra…
E outra e outra…
…muitas vezes! E em todas o resultado era o mesmo na manhã seguinte:
– Uuuuuh! Que macaquinho mais sem graça!
– Uuuuuuh! Esse macaquinho é muito feio!
E tudo isso causava muita dor no macaquinho. Até que um dia o triste animalzinho resolveu, junto com o mago, retornar pela última vez ao País das Orelhas. Desta vez, após muito procurar, achou um estranho par de orelhas no qual nunca havia reparado. E, esperançoso, falou para si mesmo que desta vez as crianças iriam gostar.
Na manhã seguinte, quando já estava em sua jaula e as crianças se espremiam diante de seu espaço, aconteceu uma surpresa: os pequenos, após tantos dias de desinteresse, estavam rindo e aplaudindo novamente, trazendo de volta a festa que o macaquinho sempre proporcionou. Durante todo aquele dia, ele voltou a ser a estrela do zoológico, fazendo a todos mais felizes.
Então, assim que o zôo fechou e a noite chegou, o velho mago surgiu para parabenizá-lo pelo espetáculo:
– Que bom que as crianças voltaram a rir contigo.
– Também acho! E graças a este meu novo par de orelhas!
– Novo? Nada disso… este, caro macaquinho, é o par que tu sempre tiveste.
Muito espantado, o macaquinho acariciou suas orelhas e as observou atentamente no reflexo do grande pote de água. E só aí reconheceu o par que sempre teve. Então ele, o mago e até as estrelas da noite sorriram. Pois a verdade é que, finalmente, o macaquinho havia descoberto que não há nada melhor do que sermos nós mesmos.
Nota da ilustradora:
Eu desenho desde que aprendi a segurar um lápis, sempre gostei de expressar os meus sentimentos através da arte e dar vida aos meus pensamentos e fantasias, por meio dessas ilustrações espero inspirar outras crianças e adultos também.
Nota do autor:
Este conto foi escrito no ano de 2013, quando meu filho Francisco tinha 1 ano de idade. Na época, trabalhava no museu do Internacional e fazia contações de histórias para dezenas de crianças, todo o domingo. A ideia era trazer personagem que retratassem a importância de gostarmos de nós, da forma que somos, e não da forma como dizem que deveríamos ser. No entanto, na data em que este conto está sendo publicado no site do TemQueVer, o zoológico como ambiente da história, também poderia ser problematizado.
*Professor, pesquisador e editor do site TemQueVer.
**Estudante do ensino médio regular