Por Silvana Moura*
Fui ao cinema assistir Oppenheimer e vou na contramão da ovação.
Oppenheimer é obra fílmica de “encher os olhos” e “esvaziar a cabeça”, se a pessoa não tiver conhecimento razoável sobre história e geopolítica. O filme é prepotente e arrogante pois sublinha a ideia de que os EUA coordenam os destinos do mundo.
O papel dedicado às mulheres, em que pese as atrizes serem excelentes, é de histéricas e emocionalmente doentes.
E vale também referir que as cenas de nudez e sexo são vazias de contexto e nexo.
Os russos, o comunismo e a União Soviética que são citados inúmeras vezes recebem abordagem desimportante e nalguns momentos até caricata. “Bons” mesmo são os EUA.
Hiroshima e Nagasaki são citadas, em três horas, duas vezes. A melhor frase colocam na boca do Truman: o mundo lembrará quem soltou a bomba e não quem a produziu, mas aí o filme já está terminando e milhares de pessoas já morreram.
Vi e considerei o filme bem feito cinematograficamente, mas ordinário histórica e geopoliticamente.
Ah, e o Oppenheimer apresentado como um cientista “ingênuo” capaz de construir uma bomba atômica, mas incapaz de calcular as repercussões nefastas de seu invento, um “bebê chorão” nas palavras de Truman.
O que merece, finalmente, ser dito: é que a bomba atômica foi criada e testada pelo capitalismo; que não existe neutralidade científica pois a ciência sempre esteve e assim permanecerá a serviço dos interesses daqueles que detêm o poder, que o socialismo estará sempre na mira destruidora dos EUA.
E, a propósito de tudo e por que hoje, 14 de agosto, é aniversário da morte de Bertolt Brecht cabe citar trecho de um de seus poemas mais conhecidos: “O vosso tanque general é um carro forte”:
O homem, meu general, é muito útil
Sabe voar e sabe matar
Mas tem um defeito: sabe pensar.
*Historiadora