Por Álvaro Nicotti*
Na madrugada desta quinta-feira (13/06), o mundo acordou diante de mais um episódio dramático no Oriente Médio. Israel lançou uma operação militar de larga escala contra o Irã, batizada de Leão Ascendente, com o objetivo declarado de conter o avanço do programa nuclear iraniano e impedir supostos ataques planejados contra seu território. Mais de 200 alvos militares e nucleares foram atingidos em cidades estratégicas como Teerã, Natanz, Isfahan e Fordow. As primeiras informações apontam para a morte de altos comandantes da Guarda Revolucionária e cientistas ligados ao setor nuclear.
A resposta iraniana veio rapidamente: centenas de mísseis e drones foram lançados contra Israel. Embora a maioria tenha sido interceptada, as sirenes soaram em Tel Aviv e Jerusalém, aumentando o pânico da população. Até o momento, não há confirmação de mortos em território israelense, apenas feridos leves.
O ataque israelense contra o Irã marca a maior troca direta de hostilidades entre os dois países em décadas, aumentando exponencialmente o risco de uma guerra regional mais ampla. A comunidade internacional acompanha com preocupação. Os Estados Unidos negaram envolvimento direto na ação e pediram “moderação” — uma palavra gasta diante da escalada constante de violência na região. **
Um cenário histórico de violência e neocolonização
A ofensiva contra o Irã ocorre em um momento em que o mundo ainda testemunha o genocídio em curso na Faixa de Gaza. Após o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023, Israel intensificou sua política de extermínio sistemático contra a população palestina, atacando hospitais, campos de refugiados e civis indefesos. O saldo é catastrófico: mais de 180 mil mortos, a maioria mulheres e crianças.
Como aponta o pensador Achille Mbembe, a necropolítica praticada por Israel — com o apoio explícito ou velado das potências ocidentais — é a expressão mais bem acabada da dominação colonial contemporânea. A dor permanente vivida pelo povo palestino, confinado, espancado, ferido e silenciado, escancara a face brutal de um projeto neocolonial que vai além das disputas religiosas ou territoriais: é, sobretudo, um conflito por poder econômico, acesso a recursos naturais e controle geopolítico.
O ataque de Israel ao Irã não é um ato isolado. Ele está inserido em um tabuleiro geopolítico de longa duração, onde o colonialismo do século XXI segue operando com alta tecnologia militar, manipulação midiática e alicerces ideológicos racistas. Enquanto isso, quem paga o preço mais alto são os povos: palestinos, iranianos, libaneses, judeus comuns — e a esperança de paz.
O Irã, resistência e cinema
O Irã, constantemente demonizado no Ocidente, ocupa papel central na resistência à hegemonia israelense na região. Alvo de sanções econômicas, campanhas de difamação e agora ataques diretos, o país mantém uma posição firme contra a ocupação da Palestina e o expansionismo israelense. Mas o Irã também resiste por meio da arte. Seu cinema, aclamado internacionalmente, oferece uma janela poderosa para compreender os dramas humanos, sociais e políticos que atravessam aquela sociedade. A Nova Onda Iraniana, por exemplo, rompeu com padrões estéticos ocidentais e passou a representar de forma autoral e corajosa a vida cotidiana sob censura e tensão política.
A seguir, indicação de alguns filmes relacionados ao Oriente Médio/Sudoeste da Ásia
Paradise Now (2005)
A produção palestina assinada por Hany Abu-Assad teve aclamada trajetória internacional – ganhou o Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro e concorreu ao Oscar da categoria. A causa palestina é abordada por um viés contundente: a lógica que move um homem-bomba. Dois amigos de infância alistam-se em esquadrão suicida. Na iminência de um ataque terrorista em Tel-Aviv, eclodem entre eles conflitos familiares, morais e religiosos.
5 câmeras quebradas (2011)
Em 2005, uma pequena cidade na Cisjordânia é invadida pelo exército israelense e dividida por um muro, para a construção de assentamentos judeus. Em meio a isso, o agricultor Emad, morador da região, decide armar-se de uma câmera e registrar sua resistência e a dos moradores do vilarejo e suas formas pacíficas de protesto para tentar conservar suas terras.
Kedma (2002)
O israelense Amos Gitai faz da tensão entre israelenses e palestinos matéria-prima de alguns de seus grandes filmes – o diretor foi ferido registrando combates na Guerra do Yom Kippur, em 1973. Neste longa, ele vai ao epicentro do conflito. Mostra a chegada à Palestina dos judeus europeus refugiados da II Guerra, muitos sobreviventes do Holocausto, no movimento de ocupação rejeitado pelos palestinos mas chancelado pela ONU com a criação do Estado de Israel, em 1948.
Notturno (2020)
O documentário Notturno, do cineasta italiano Gianfranco Rosi, apresenta o dia a dia nas incertas fronteiras entre Síria, Iraque, Líbano e Curdistão, em meio a intermináveis crises em uma das regiões mais turbulentas do planeta e à influência do Estado Islâmico (EI). .O documentário exigiu seis meses de pesquisa, três anos de filmagens e mais seis meses de montagem. As oito histórias retratadas pelo cineasta, que compõem um mosaico do Oriente Médio, nasceram da relação de confiança com as pessoas que o autorizaram a documentar sua existência.
Laila in Haifa (2020)
A vida no Oriente Médio também é tema do filme Laila in Haifa, do cineasta israelense Amos Gitai. O longa mostra um exemplo de possibilidade de convivência entre israelenses e palestinos, tema que acompanha toda a produção de Gitai. A filmagem foi feita inteiramente em uma discoteca-galeria vizinha à ferrovia de Haifa, cidade natal do diretor, aberta a homossexuais, travestis e pessoas que querem apenas se divertir ou estão em busca de sexo casual.
Outros filmes:
Salt of This Sea
Inch’Allah
Nascido em Gaza
Lemon Tree
O coração de Jenin
Gaza fights for freedom
It’s better to jump
Miral
Gaza Surf Club
Naila and uprising
Palestina
Valsa com Bashir
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*Professor, pesquisador e fundador do TemQueVer
** Informações/dados retirados do site Sputnk Brasil e BBC Brasil