Em mais uma matéria destinada à literatura do Litoral Norte do Rio Grande do Sul, o Tem Que Ver foi conversar com Cristina Maria de Oliveira. Autora de quatro livros solo, quatro em co-autoria e participou de cinquenta coletâneas/antologias. Foi patrona da Feira do Livro de Capão da Canoa de 2023 e é uma grande entusiasta dos coletivos artísticos. A seguir, a entrevista.
TemQueVer: Do que se trata Terno de Reis e Poet(r)izar?
Cristina: Este livro (Terno de Reis) consiste na complementação do registro das vozes dos Mestres de grupos de Cantorias de Terno de Reis que, em sua sabedoria cultuam, através de autos natalinos, a tradição de levar mensagens de Paz entre as famílias de sua comunidade ou de onde são convidados à visitação. Uma tradição milenar, dos Magos do extremo oriente, que chegou até Osório pelos Açorianos que povoaram o litoral gaúcho há mais de 270 anos. Muito me gratifica poder ser a mediadora que registra um pouco das muitas histórias sobre a formação e identidade desta Arte Popular presente em Osório e que, desde 2019, foi registrada como Patrimônio Histórico Cultural do município. Emoção e sabedoria alentam à busca pela continuidade.
Escrever poemas a ‘seis mãos’ é um ato artístico desafiador. Já tínhamos escrito um, com poemas para adultos, e decidimos produzir este , considerando que crianças alfabetizadas, numa faixa etária de 8 a 12 anos que ficou desassistida em termos de literatura poética: são leitores a que talvez já não interesse tanto os contos e músicas infantis, em que as histórias aparecem todas desenhadas/ilustradas, podendo ser ‘lido’ sem estar alfabetizado; uma etapa anterior da infância. Objetivamos, pois, brincar com as palavras, levando à abstração e desafiando à criatividade com elementos do cotidiano da meninada. Por isso mesmo, é uma obra que também interessa a adultos, considerando que todos vivenciamos a temática poética contida. Uma evocação afetiva às peraltices infantis.
TemQueVer: Quem é a Cristina Maria de Oliveira?
Cristina: Sou pesquisadora desta temática de cultura açoriana e escritora das narrativas históricas do nosso povo. Além desta modalidade literária, também escrevo poemas e pequenos contos. Sou professora aposentada.
Vim para Osório em 2003, lecionar na então FACOS, hoje UNICNEC, onde permaneci até 2020. Desde lá, dedico-me ao ativismo cultural do Litoral Norte RS, em especial, em eventos de Feiras de Livro, Saraus Literários, bate-papos em escolas e outros espaços culturais. Sempre que possível, estou presente em Teatros, no Dandô, em shows musicais, danças, exposições artísticas. O Litoral Norte, nos diferentes municípios que o compõem, possui amplo e variado coletivo artístico, mesmo que os grandes centros ainda não o desconheçam. O coletivo é meu fascínio artístico.
TemQueVer: O que a literatura pode contribuir para os jovens do Litoral Norte do gaúcho?
Cristina: Gosto muito de atuar artisticamente com ex-alunos e jovens escritores e atores, bastante gratificada em aprender com a geração de artistas dos quais trago registros de sua formação profissional.
Entre Osório e Capão da Canoa, além de outros municípios do LN, os jovens artistas apresentam qualidade profissional que precisa ser reconhecida em políticas públicas destinadas à Cultura local.
