Violência na Escola em Cena: Afinal, o que está acontecendo?

Por Álvaro Nicotti*

Um sentimento de desesperança, raiva, tristeza e incompreensão se misturam ao analisar os casos de ataques as escolas que se multiplicam no Brasil. E, muitas vezes, são ataques estúpidos, cruéis e nojentos. Qual sensação tive, ao saber do ataque de um homem, em Blumenau-SC, que matou criancinhas a machadada, não consigo descrever.

No entanto, é possível investigar as causas, analisar números, interpretar fatos e contextos para se ter uma ideia do que está ocorrendo em nossa sociedade e ambiente escolar. Primeiramente, vislumbrando a violência em si, no que tange as execuções e massacres, se destaca a importação desta prática: estamos imitando e reproduzindo o que já acontece faz um bom tempo nos EUA.

Segundo o grupo de pesquisa Gun Violence Archives (grupo de pesquisa que rastreia ocorrências de execuções e massacres usando documentos da polícia) o números nos EUA são terríveis. De acordo com os dados levantados, até o fim de março deste ano (2023), houve o registro de 130 tiroteios em massa. Mais de um por dia!

Além da questão das execuções em si e seus números alarmante, temos outros fatores que contribuem para que estas tragédias sociais aconteçam. Segundo o jornalista Rodrigo Ratier, do grupo UOL, o mesmo enumera, de forma certeira, os seguintes fatores:

Algoritimezação- Timelines que privilegiam o engajamento de conteúdo violento

Cultura das armas- quatro anos de um presidente armamentista e o relaxamento das regras por porte de armas;

Cobertura sensacionalista da mídia– a literatura aponta o chamado “efeito contágio” desse tipo de massacre. Noticiário sangrento tende a gerar mais ocorrências.

Impunidade de crimes cibernéticos– as forças policiais têm sido altamente insuficientes para coibir os processos de radicalização

Falta de regulação das plataformas- é conhecida a ligação entre os tiroteios e a radicalização propiciada por comunidades subterrâneas da internet.

A questão da regulamentação das plataformas é a temática mais relevante dos últimos tempos, principalmente quando os números de violências aumentam vertiginosamente, muitos deles organizados na web e nas redes sociais. Vejamos um caso de irresponsabilidade de uma página de determinada rede social, na qual a falta de regulamentação e a impunidade cibernética, que podem ter contribuído para um dano sem precedentes a um estudante do litoral norte do RS e, consequentemente, a sua comunidade escolar.

Um boato cruel se alastrou pela comunidade de Capão da Canoa e atingiu toda a região do Litoral Norte do RS. Mas que boato foi esse? O boato devastador foi de que, um menino agredido em um desentendimento pontual na escola se vingaria, fazendo um massacre no ambiente escolar.

No entanto, até o momento, não havia nenhum registro em qualquer rede social ou plataforma digital que confirmasse tal fato. Mas então, como a notícia se alastrou? Se alastrou em virtude de postagens deste conteúdo nas redes socias, sendo uma delas com centenas de milhares seguidores. Uma página no Facebook que a comunidade da região muito se abastece com suas informações.

Vivenciei as consequências do alastramento deste boato, supostamente falso. A comunidade escolar ficou assustada, pais e mães preocupados em mandar seus filhos para a escola, professores, educadores e funcionários angustiados em seu ambiente de trabalho.

Além disso, teve também a situação do estudante rotulado. Como fica o seu retorno à escola? Como sua família vai lidar com essa situação?

É importante também acrescentar a tudo isso o frágil momento emocional que nossos adolescentes estão passando, em função da pandemia que os excluiu da convivência escolar. Segundo um levantamento feito Ieps (Instituto de Estudos para Políticas de Saúde) e do Instituto Cactus, a saúde mental de crianças e adolescentes piorou com a pandemia de Covid-19.

Acrescente a toda essa problemática ocasionada pela pandemia, o fato de nossos jovens retornaram às aulas presenciais, de para quedas, num novo modelo de educação que denominamos Novo Ensino Médio. Um modelo recheado de polemicas e que requer muita adaptação.

Se ainda não temos regulamentação eficaz nas redes, vamos conversar sobre isso e que nossas autoridades e gerenciadores de mídia tenham mais responsabilidades na hora de divulgar conteúdo tão sensível e nefasto para nossa comunidade escolar.

A seguir, indico dois filmes e um curta de animação que abordam a temática da violência nas escolas.

Se algo acontecer…Te amo (2020)- Netflix

Um casal enfrenta o vazio emocional e o luto pela morte da filha em um tiroteio na escola.

Elefante (2003)- HboMax

Um intimista, artístico e autoral filme que retrata o massacre de Columbine, EUA.

Precisamos falar sobre o Kevin (2011)- Prime

Eva nunca quis ser mãe e por isso tem uma relação complicada com seu filho Kevin. Agora, o adolescente está preso por ter sido o responsável por uma tragédia, e Eva tenta lidar com a sensação de responsabilidade pelo que aconteceu.

*Professor, pesquisador, desenvolvimentista e editor do site TemQueVer.

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