Por Breno Matos*
Nos primórdios da sétima arte em terras brasileiras, nasceu uma expressão singular, uma identidade forjada na luz dos projetores. O cinema brasileiro, em seus primeiros passos, capturou a essência do cotidiano, as cores vibrantes da nossa cultura e as histórias profundas do nosso povo. Esse início, lá em meados de 1890 ainda, não foi apenas um marco artístico, mas uma janela aberta para o mundo, mostrando a rica tapeçaria que compõe a nação brasileira.
Ainda que seja triste perceber que, enquanto o cinema nacional florescia, muitos brasileiros aos longos das décadas optam por cobrir os olhos com vendas americanizadas, preferindo assistir somente a filmes estrangeiros, e quando falados em português por um descuido de escolha, estranha a naturalidade da língua materna nas telas por estar tão acostumados com uma dublagem. Esse distanciamento, essa falta de reconhecimento, é uma ferida que perdura, uma cicatriz da busca constante por validação externa.
Ao apresentar uma lista dos Melhores Filmes Brasileiros de Todos os Tempos, não buscamos impor verdades absolutas ou definir de maneira rígida o que deve ser amado ou odiado. Esta lista é, antes de tudo, um convite. Um convite para redescobrir o cinema nacional, para mergulhar nas narrativas que nos pertencem, para reconhecer e celebrar a nossa própria voz.
As listas são reflexos dos gostos e perspectivas de uma época, instantâneos que capturam a preferência dos votantes em determinado momento. Elas não são verdades imutáveis, mas sim pontos de partida para debates, descobertas e redescobertas. Convidamos novos cinéfilos a explorarem esses tesouros cinematográficos, a olharem além das posições e títulos, e a abraçarem a riqueza e diversidade do cinema brasileiro.
Esta lista foi composta através de críticos jovens e veteranos ao redor de todo o Brasil, em especial o grupo “Os Incompreendidos”, para celebrar o dia do cinema brasileiro. Que este mergulho na cinematografia nacional seja um despertar para todos nós. Uma oportunidade para remover as vendas americanizadas e estrangeiras que tanto tentam nos amarrar e ver com clareza a beleza que sempre esteve diante de nós.
VIVA O CINEMA BRASILEIRO!
Top 100:
1º Cabra Marcado Para Morrer, 1984 Eduardo Coutinho
2º Limite, 1931 Mário Peixoto
3º Deus e o Diabo na Terra do Sol, 1964 Glauber Rocha
4º O Bandido da Luz Vermelha, 1968 Rogério Sganzerla
5º São Paulo, Sociedade Anônima, 1965 Luiz Sérgio Person
6º Rio, Zona Norte, 1957 Nelson Pereira dos Santos
7º São Bernardo, 1972 Leon Hirszman
8º Vidas Secas, 1963 Nelson Pereira dos Santos
9º Terra em Transe, 1967 Glauber Rocha
10º Bang Bang, 1971 Andrea Tonacci
11º Jogo de Cena, 2007 Eduardo Coutinho
12º À Meia-Noite Levarei Sua Alma, 1964 José Mojica Marins
13º Central do Brasil, 1998 Walter Salles
14º Rio, 40 Graus, 1955 Nelson Pereira dos Santos
15º Sem Essa Aranha, 1970 Rogério Sganzerla
16º Noite Vazia, 1964 Walter Hugo Khouri
17º Cidade de Deus, 2002 Fernando Meirelles, Kátia Lund
18º Os Fuzis, 1964 Ruy Guerra
19º Falsa Loura, 2007 Carlos Reichenbach
20º O Pagador de Promessas, 1962 Anselmo Duarte
21º Filme Demência, 1986 Carlos Reichenbach
22º O Auto da Compadecida, 1999 Guel Arraes
23º Eles Não Usam Black-Tie, 1985 Leon Hirszman
24º O Padre e a Moça, 1966 Joaquim Pedro de Andrade
25º Edifício Master, 2002 Eduardo Coutinho
26º O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro, 1969 Glauber Rocha
27º Alma Corsária, 1993 Carlos Reichenbach
28º Pixote, 1980 Héctor Babenco
29º Compasso de Espera, 1973 Antunes Filho
30º Mar de Rosas, 1977 Ana Carolina
31º Memórias de um Estrangulador de Loiras, 1971 Júlio Bressane
32º A Casa Assassinada, 1971 Paulo César Saraceni
33º O Caso dos Irmãos Nave, 1967 Luiz Sérgio Person
34º A Mulher de Todos, 1969 Rogério Sganzerla
35º A Hora da Estrela, 1985 Suzana Amaral
36º Bacurau, 2019 Kléber Mendonça Filho
37º Ilha das Flores, 1989 Jorge Furtado
38º A Mulher Que Inventou o Amor, 1979 Jean Garrett
39º Matou a Família e Foi ao Cinema, 1969 Júlio Bressane
40º Jardim de Guerra, 1968 Naville D’Almeida
41º Excitação, 1976 Jean Garrett
42º Sertânia, 2020 Geraldo Sarno
43º O Assalto ao Trem Pagador, 1962 Roberto Farias
44º Mato Seco em Chamas, 2022 Adirley Queirós, Joana Pimenta
45º Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver, 1967 José Mojica Marins
46º Rio Babilônia, 1982 Naville D’Almeida
47º O Som ao Redor, 2012 Kléber Mendonça Filho
48º Macunaíma, 1969 Joaquim Pedro de Andrade
49º Iracema: Uma Transa Amazônica, 1975 Jorge Bodanzky, Orlando Senna
50º Que Horas Ela Volta?, 2015 Anna Muylaert
51º O Homem Que Virou Suco João Batista de Andrade
52º O Lobo Atrás da Porta, 2013 Fernando Coimbra
53º O Viajante, 1998 Paulo César Saraceni
54º Garoto, 2015 Júlio Bressane
55º Di Cavaltanti, 1977 Glauber Rocha
56º Todas as Mulheres do Mundo, 1966 Domingos Oliveira
57º Os Homens Que Eu Tive, 1973 Tereza Traufman
58º O Amuleto de Ogum, 1974 Nelson Pereira dos Santos
59º Exorcismo Negro, 1974 José Mojica Marins
60º A Herança, 1970 Ozualdo Ribeiro Candeias
61º Bicho de Sete Cabeças, 2000 Laís Bodanzky
62º A Vida Invisível, 2019 Karim Aïnouz
63º Memórias do Cárcere, 1972 Nelson Pereira dos Santos
64º Os Saltimbancos Trapalhões, 1981 J.B. Tanko
65º O Invasor, 2001 Beto Brant
66º Copacabana Mon Amour, 1970 Rogério Sganzerla
67º Carnaval Atlântida, 1952 José Carlos Burle
68º A Entrevista, 1966 Helena Solberg
69º Amarelo Manga, 2002 Cláudio Assis
70º A Rainha Diaba, 1974 Antônio Carlos da Fontoura
71º Ganga Bruta, 1933 Humberto Mauro
72º Orfeu Negro, 1959 Marcel Camus
73º Madame Satã, 2002 Karim Aïnouz
74º Viagem ao Fim do Mundo, 1968 Fernando Coni Campos
75º Também Somos Irmãos, 1949 José Carlos Burle
76º Os Deuses e os Mortos, 1970 Ruy Guerra
77º Martírio, 2016 Vincent Carelli
78º Porto das Caixas, 1962 Paulo César Saraceni
79º O Império do Desejo, 1981 Carlos Reichenbach
80º A Idade da Terra, 1980 Glauber Rocha
81º A Falecida, 1965 Leon Hirszman
82º A Ilha dos Prazeres Proibido, 1979 Carlos Reichenbach
83º Sinfonia da Necrópole, 2016 Juliana Rojas
84º O Palácio dos Anjos, 1970 Walter Hugo Khouri
85º O Canto da Saudade, 1952 Humberto Mauro
86º Serras da Desordem, 2006 Andrea Tonacci
87º Longo Caminho da Morte, 1972 Júlio Calasso
88º O Signo do Caos, 2003 Rogério Sganzerla
89º Lavoura Arcaica, 2001 Luiz Fernando Carvalho
90º O Beijo da Mulher Aranha, 1985 Héctor Babenco
91º Das Tripas Coração, 1982 Ana Carolina
92º O Desafio, 1965 Paulo César Saraceni
93º Que Bom Te Ver Viva, 1989 Lúcia Mural
94º Recife Frio, 2009 Kléber Mendonça Filho
95º A Margem, 1967 Ozualdo Ribeiro Candeias
96º Durval Discos, 2002 Anna Muylaert
97º Navalha na Carne, 1969 Braz Chadiak
98º Bye Bye Brasil, 1979 Cacá Diegues
99º O Vampiro da Cinemateca, 1977 Jairo Ferreira
100º Tocaia no Asfalto, 1962 Roberto Pires
Lista dos votantes:
1. Alysson Oliveira
2. Alvaro Nicotti
3. Amanda Spineli
4. Andy Malafaia
5. Breno Matos
6. Cecilia Barroso
7. Chico Fireman
8. Diego Scariot
9. Felipe de Souza
10. Filipe Furtado
11. Frank Carbone
12. Gabriel Teiga
13. Guilherme Salomão
14. Gustavo Rezende
15. Henrique Debski
16. Ilana Oliveira
17. Jean Werneck
18. João Manoel
19. José Roberto
20. Júlio Oliveira
21. Leonardo Ferlin
22. Leonardo Lima
23. Marcelo Formiga
24. Pablo Rodrigues
25. Philippe Leão
26. Sérgio Alpendre
27. Sthefany dos Santos
28. Thaís Rodrigues
29. Victor Russo
30. Vinicius Garcia
31. Vinicius Oliveira
32. Viviane Monteiro
33. Wallace Andrioli
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Fundador do grupo Incompreendidos, e
scritor e crítico de cinema, Breno é autor dos livros; Por Trás de um Sol e Sobre Pássaros e Caracóis. Também analisa filmes recém lançados e divulga grandes autores da sétima arte através de sua página Lanterna Mágica Cinema no instagram. Além de também ser o criador e organizador da premiação amadora de cinema Kurosawa de Ouro. Seu filme do coração é Persona, e respectivamente Ingmar Bergman seu diretor favorito.