Chorão: Marginal Alado

Por Álvaro Nicotti*

Cazuza disse que seus heróis morreram de overdose e que seus inimigos estavam no poder. Nos tempos de hoje não posso repetir seu refrão de forma integral, mas posso dizer que as ideais dos sujeitos que hoje governam o país, desde 2016, são completamente o oposto do pensamento que tenho de nação livre, solidária e menos desigual. Também não posso dizer que Chorão seja meu herói, mas com certeza ajudou a formar o meu carácter e é, sem dúvida,  ídolo de uma geração inteira. Por sinal, um cara que nos deixou muito cedo- morrer aos 42 anos é muito cedo! – em função da depressão e o uso abusivo de drogas.

Para quem viveu a juventude nos anos 2000, impossível não ter tido contato com as músicas do Charlie Brown. Uma banda de punk rock, que já cantou grunge, surpreendeu com MPB e pirou o cabeção de muito skatista e pichador de muro desse Brasil gigante. Uma banda que, através do Chorão, fez uma forte relação com o Rap nacional, fazendo laços com RZO, Sabotage e Rappin’Hood. Aliás, senti falta de mais detalhes dessa parte da história no documentário.

Além disso, é uma época em que junto com a banda de chorão, ao sintonizar uma rádio, tocavam em sequência canções do Planet Hemp, O Rappa, Nação zumbi e Mundo Livre S/A. Uma época singular do rock brasileiro que Marginal Alado resgata para seu espectador, na perspectiva biográfica de Chorão, líder do Charlie Bronw.

Um documentário bem desenvolvido que relata a trajetória curta, mas intensa do vocalista do Charlie Brown, com depoimentos reveladores e de importante registro histórico. Um documentário para entender uma geração que, em sua  época juvenil, se sentia carente de grandes líderes intelectuais.  Uma geração confusa, dispersa e sem identidade com um ícone culturalmente revolucionário que pudessem chamar de seu, que Marginal Alado desmente com maestria.

Disponível na Netflix

* Professor, pesquisador e editor do TemQueVer.

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