O Último Duelo

Por Ana Caroline Acosta*

O Último Duelo é uma história baseada no romance homônimo de Eric Jager, sobre o duelo entre Jean de Carrouges, um cavaleiro respeitado conhecido por sua bravura e habilidade no campo de batalha, e Jaques Le Gris, um escudeiro cuja inteligência e eloquência fazem dele um dos nobres mais admirados da corte. Quando Le Gris ataca violentamente a esposa de Carrouges, ela dá um passo à frente para acusar seu agressor, um ato de bravura e desafio que coloca sua vida em risco.

Ao analisar esta grande obra de Ridley Scotty – O Último Duelo– julgo importante entender o contexto histórico em que a narrativa se desenvolve.

Estamos entranhados no sistema feudal europeu, sistema político econômico que perdurou por quase toda a Idade Média, entre os séculos V e XV. Por sua vez, a Idade Média se divide em dois períodos: a alta e a baixa Idade Média, esta última ao qual a trama se desenrola. Esse conceito (feudalismo), que predominou na sociedade medieval europeia, tem gerado debate entre os historiadores.

Neste caso, vamos utilizar aqui o conceito do historiador francês Jacques Le Goff. Segundo este autor, o feudalismo é um sistema de organização econômica, social e política no qual uma camada de guerreiros especializados (senhores) – subordinados uns aos outros por uma hierarquia de vínculos de dependência, domina uma massa campesina que trabalha na terra e lhes fornece com que viver.

Dito isso, a narrativa nos apresenta dois personagens principais: o cavaleiro Jean de Carrouges (Matt Damon) e Jacques Le Gris (Adam Drive). O primeiro é a rudeza, a força militar, o vassalo legítimo. Já o segundo, também é um vassalo, mas mais requintado, com personalidade estrategista, um grande oportunista que cola no Suserano, no senhoril Pierre d’Alençon (Ben Affleck). No entanto, todos eles ofuscados por uma mulher. Mas Antes de apresentar a personagem feminina, e toda a narrativa urgente que o filme nos remete, precisamos falar do tripé da Idade Média: nobreza, servos e, é claro, o Clero – A Igreja Católica que exercia enorme influência política.

Nas palavras do bispo Adalberon de Laon, do século XI: Nobreza, clero e servos formam um só conjunto e não se separam. A obra de um permite o trabalho dos outros dois, e cada qual, por sua vez, presta apoio aos outros.

 Já sacaram a do bispo, né?

Contexto explicado, avançamos à obra em si. Conforme a história se desenrola, o espectador observa a vida privada dentro dos castelos: os jantares, as caçadas, as relações de casamento como contratos sociais e, por óbvio, as cenas de batalhas com muito sangue e trinchar de espadas.

Além disso, se na Idade Média havia o tripé social nobres, clero e servos, a película reproduz um segundo tripé moral: a honra, a rivalidade e o bem contra o mal, sintetizada no casamento de Carruges com a duquesa Marguerite (Judie Comer). Um casamento que tinge de veneno, raiva, inveja e ódio a relação, já não tão leal, entre Carrouges e Le Gris.

A partir de então, desmembrado em três capítulos, o diretor divide a opinião do público através de um suposto crime cometido por um deles.

Por fim, uma dinâmica que chama atenção aqui é o protagonismo feminino: uma mulher de linhagem ancestral maior que a de todos os homens da trama.  Ela é maior que todos. Uma mulher que vai ganhando força, que vai abrindo as cortinas de fogo da inquisição, que se mostra corajosa e disposta a ir até as últimas consequências pela sua verdade.  E nos traz a questão do abuso, do crime, do julgamento, da vergonha, da crueldade sobre nós mulheres. E constatamos, tristemente, que o medievalismo ainda nos acompanha na contemporaneidade.

Para provar quem está falando a verdade, a partir da visão dos três personagens principais da trama, sugere-se O ÚLTIMO DUELO.

*Professora de história, integrante do Coletivo Rede Poder Mulher-RS, colaboradora do TemQueVer e mãe do Francisco.

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