Por Viviane Monteiro*
O mês de dezembro foi marcado com a aprovação no Senado Federal do projeto de lei (PL 4.932/2024), que proíbe o uso de celulares nas escolas. No texto aprovado, os alunos poderão levar os aparelhos em suas mochilas, porém não poderão usar, exceto em casos específicos, como situação de saúde. Essa restrição é válida para todos os níveis de educação básica.
As dificuldades dos professores em atrair a atenção dos alunos nas salas de aulas com o uso de celulares liberado, foram os pontos destacados pelos senadores durante a votação. O texto tramitava no Congresso Nacional desde o ano de 2015. Após aprovação no Senado, o projeto de lei vai à sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, medida deve valer para próximo ano letivo.
Vários países vêm adotando essa medida de proibição de celulares nas escolas, a exemplo da França que foi um dos primeiros, a banindo os aparelhos em suas escolas no ano de 2018, seguindo pela Tasmânia também proibindo o uso em suas escolas no mesmo ano, além da Finlândia. E esse ano a Holanda adotou a proibição do uso de smartphones nas escolas.
A Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), após diversos estudos sobre o papel da tecnologia na educação, passou a recomendar que os países tomem medidas no sentido de proibir o uso de smartphones nas escolas, em virtude do seu efeito negativo no processo de aprendizagem dos estudantes.
As pesquisas também concluíram que o tempo excessivo de tela afeta de forma negativa a equilíbrio emocional das crianças.
Um tema que não fica apenas na esfera das crianças e adolescentes, nos últimos anos, o uso de smartphones no Brasil cresceu de maneira expressiva, transformando-se em ferramenta principal para diversas atividades do dia a dia. Essa crescente dependência da tecnológica acende discussões importantes quanto ao uso excessivo de aparelhos celulares. Que se torna problemático com o passar do tempo e o aumento das horas conectado.
De acordo com levantamento realizado pela plataforma Electronics Hub, uma página da internet responsável por estudos de informações eletrônicas, a partir da pesquisa Digital 2023: Global Overview Report da DataReportal, (Relatório Global de Visão Geral Digital 2023). O qual apresenta um relatório completo que traz mais de 400 gráficos explorando o que as pessoas realmente estão fazendo na internet, nas mídias sociais, nos dispositivos móveis e nas plataformas de compras online. Considerando 45 nações, concluiu que o Brasil é o segundo país com mais pessoas em frente a uma tela e passam em torno de 56,6% das horas acordadas em frente a telas, ou seja, cerca de nove horas de seu dia. Em primeiro lugar do ranking estão os sul-africanos, que passam por volta de 58,2% acordados usando o computador ou um smartphone.
Segundo a plataforma, toda explicação para esse tempo excessivo de uso está ligada ao crescimento dos serviços de streaming on-line.
Tem diversos estudos relacionados ao uso compulsivo e prolongado de celulares, indicando múltiplos problemas sobre o uso exagerado, e um fenômeno que vem se tornando conhecido é o da nomofobia, um tipo de ansiedade causada pela ausência do uso de smartphones. O portal nomofobia.com realizou uma pesquisa no Brasil, e esse levantamento revelou que 60% dos brasileiros experimentam algum grau de ansiedade sem o celular, e 87% se consideram dependentes dele para as atividades diárias. A nomofobia é fenômeno psicológico que ganhou importância substancial nos últimos anos, devido ao aumento da dependência das pessoas aos celulares. O termo foi criado pela YouGov, uma instituição de pesquisa sediada no Reino Unido.
Entre alguns dos sintomas, implicações psicológicas e físicas apresentados nas populações afetadas estão. Ansiedade e inquietação (geralmente devido ao medo de perder chamadas, mensagens ou atualizações importantes pode causar sofrimento significativo nas pessoas); Verificação obsessiva por telefone (esse comportamento ocorre da necessidade constante de segurança e do medo que a pessoa tem de se sentir desconectado do mundo digital); Isolamento social (a dependência constante da comunicação digital pode prejudicar as interações face a face, fazendo com que as pessoas percam conexões e experiências genuínas) e por último Ataques de pânico(esses ataques de pânico podem fazer com que as pessoas apresentem sintomas como aumento da frequência cardíaca, sudorese, falta de ar e uma sensação de morte iminente).
Mas nem tudo está perdido, ainda há formas de reverte essa dependência e contornar os sintomas. O caminho está no cultivo de hábitos digitais saudáveis como ferramenta fundamental para suavizar os efeitos adversos da nomofobia. Entre eles estão o de fazer pausas regulares das telas, limitar o uso de mídias sociais, fazer mais atividades que não demande o uso do celular, o mais importante e crucial é criar um ambiente saudável entre experiências online e offline, promovendo vínculos genuínos, focando no autocuidado para proporcionar um melhor equilíbrio à saúde mental.
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*Psicóloga Clínica, Alagoana , Cinéfila e integrante do Podcast Cinema em Movimento.