APESAR DE VOCÊ, 2024, AMANHÃ HÁ DE SER OUTRO ANO!

Uma breve retrospectiva com indicação de filmes.

Site que tem a missão de pensar o mundo através do cinema, da arte e da cultura, com vistas à práxis que busca transformar o nosso (único!) mundo, o TemQueVer, juntamente com o Cinemuholland, Cinema em Movimento, E o Cinema levou, Felipe de Souza e Viviane Monteiro, não poderiam deixar de fazer um breve balanço olhando em retrospectiva 2024. 

Indiscutivelmente, este ano carrega consigo as marcas de uma sociedade globalizada que ruma a passos acelerados em direção ao abismo, tendo por base um modelo de desenvolvimento predatório que parece não sentir qualquer vergonha ou culpa de pôr em risco a continuidade da existência do Homo Sapiens e de toda forma de vida na Terra. 

Não à toa, recordes de temperatura são registrados em diversos lugares do planeta, evidenciando que as mudanças climáticas em curso atingiram patamares os quais esperávamos vivenciar apenas nos próximos 10 ou 20 anos. As chuvas torrenciais que atingiram o Rio Grande do Sul e a seca impiedosa que atingiram vastas regiões do país (Amazônia, Pantanal e até mesmo o estado de São Paulo) são faces complementares da mesma moeda pré-apocalíptica.

Em termos de Brasil, ainda, impossível não dar destaque à descoberta da trama golpista que, em fins de 2022, por muito pouco não ocasionou o assassinato de um membro do Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Alexandre de Moraes, e dos recém-eleitos Luiz Inácio Lula da Silva (presidente) e Geraldo Alckmin (vice-presidente). Diante da inviabilidade de se apagar essa mácula no frágil tecido de nossa democracia contemporânea, que ao menos as investigações da Polícia Federal levem à prisão de todas aquelas pessoas que, direta ou indiretamente, atentaram contra a manutenção do Estado Democrático de Direito brasileiro – sejam as sardinhas do cardume verde-amarelo que instauraram o caos em Brasília no dia 8 de janeiro de 2023, sejam os tubarões do coloio civil-militar de extrema-direita que esteve à frente do Poder Executivo no período 2019-2022. Filmes como Argentina, 1985 e Ainda Estou Aqui nos lembram, sob perspectivas nacionais opostas, a importância histórica de se repelir o leviano caminho conciliatório da anistia, instrumento este que só beneficia àqueles que não têm a democracia como um valor político intrinsecamente irrefutável.

Por sua vez, para além das fronteiras brasileiras, vimos em 2024 verdadeiras cenas de terror, reais ou simbólicas, mundo afora, tendo como protagonista o Estado sionista de Israel liderado pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que não apenas intensificou sua campanha genocida na Palestina (Faixa de Gaza e Cisjordânia), como também a ampliou, expandindo sua máquina de guerra em direção ao Líbano e à Síria (Colinas de Golã) pós-queda do regime ditatorial de Bassar al-Assad. Obviamente, ninguém em sã consciência defende as ações de grupos como o Hamas e o Hezbollah; todavia, é preciso saber separar o joio do trigo, o que implica em ressaltar a deslegitimidade do teor da resposta política levada a efeito por Israel em territórios vizinhos. A justificativa é promover a segurança nacional, mas, em verdade, o que se observa é uma prática que visa eliminar indivíduos e povos que tão somente desejam ter o mesmo direito já desfrutado há quase oito décadas por israelenses, ou seja, ter um Estado soberano e independente no qual possam ser livres para decidir autonomamente o seu destino.

Nos Estados Unidos da América, a despeito da abominável invasão do Capitólio em janeiro de 2021, o “republicano” (sic!) Donald Trump consagrou seu retorno à Casa Branca após derrotar inapelavelmente Kamala Harris, evidenciando, assim, a força crescente do conservador ideário político de extrema-direita. Ainda que saibamos sobre a convergência histórica de interesses envolvendo detentores do capital e representantes políticos situados à direita no campo ideológico, é particularmente assustador ver como bilionários do Vale do Silício (vide Elon Musk) e agentes do mercado de criptomoedas aderiram com grande entusiasmo à campanha de Trump, algo que certamente irá potencializar o poder de corrosão do regime democrático estadunidense nos próximos quatro anos, causando impactos imediatos e imprevisíveis em esfera global. Tal como nos anos 1930, o ovo da serpente está prestes a eclodir violentamente.

Mas nem tudo é pessimismo, terrorismo, negacionismo, destruição e desilusão. Existe esperança. O ano de 2024, com suas maluquices extremistas de alto teor de desmotivação coletiva, pode nos ensinar muita coisa e provocar muitas ações, como a deste proto coletivo de páginas de cinema, que insiste em afirmar no poder de transformação social do audiovisual e da cultura. Pessoas que, através de suas críticas e plataformas, divulgam produções do mundo inteiro que contemplam diversão, reflexão e transformação. Um coletivo que visa contribuir, através de sugestões de filmes e séries, para que nossos olhos não se fechem para um mundo insustentável que insiste em prosperar.

Assim, desejamos uma excelente virada de ciclo e início de solstício de verão, como diz essa mensagem genial de Jorge Harrmann:

Solstício é herança de milênios, o novo e longo ciclo solar que inicia, ao qual costumamos chamar Natal.

Os dias mais longos aqui, as mais longas noites acolá, ambos iniciando um percurso rumo ao seu inverso.

Solstício, ou Natal, não importa.

O ente de fogo, que concede a vida a cada dia que nasce, ou o menino sempre renascido. Não importa qual.

Importa o sentido, o momento em que pra valer, com seu pleno significado, inicia um ano novo.

Este, de corpo e alma, e não o outro, sete dias depois, feito só de contagem regressiva.

A seguir, nossa indicações de filmes.

CineMulholand (Leonardo Lima)

Caminhos Cruzados (2024)

Direção: Levan Akin

Disponível: Mubi

Lia, uma professora aposentada da Geórgia, fica sabendo por seu jovem vizinho, Achi, que sua sobrinha transgênero, Tekla, há muito perdida, cruzou a fronteira para a Turquia. Em busca de Tekla, Lia viaja para Istambul com o imprevisível Achi, onde exploram as profundezas ocultas da cidade.

Saudade fez Morada Aqui Dentro (2024)

Direção: Haroldo Borges

Disponível: Netflix

Como se a adolescência não fosse difícil o suficiente, um jovem adolescente órfão de pai, morador de uma pequena cidade do interior da Bahia, enfrenta uma doença degenerativa dos olhos que acabará por deixá-lo cego. À medida que sua visão se deteriora, ele passa pela dor e pela confusão de seu primeiro amor não correspondido e, finalmente, terá que aprender em primeira mão como ver a vida com outros olhos.

Camponeses (2024)

Direção: Hugh Welchman, DK Welchman

Disponível: Max

A camponesa Jagna é forçada a se casar com o rico e muito mais velho fazendeiro Boryna, apesar de seu amor por seu filho Antek. Com o tempo, Jagna se torna objeto de inveja e desdém dos moradores e ela deve lutar para preservar sua independência.


Cinema em Movimento (Pablo Rodrigues)

Cabra marcado para morrer (Brasil, 1984)

Direção: Eduardo Coutinho

Em 1962, João Pedro Teixeira, líder da liga camponesa de Sapé, na Paraíba, é assassinado por ordem de latifundiários. Um filme sobre sua vida começa a ser rodado em 1964, com direção de Eduardo Coutinho. As filmagens são interrompidas pelo golpe militar ocorrido no mesmo ano. Dezessete anos depois, em 1981, Eduardo Coutinho retoma o projeto e procura Elizabeth Teixeira, viúva de João Pedro, e outros participantes do filme interrompido, compondo um retrato impactante e poderoso sobre os impactos da ditadura empresarial militar pela perspectiva da classe trabalhadora menos favorecida.

5 câmeras quebradas (Palestina, França, 2011)

Direção: Emad Burnat, Guy Davidi

Em 2005, uma pequena cidade na Cisjordânia é invadida pelo exército israelense e dividida por um muro, para a construção de assentamentos judeus. Em meio a isso, o agricultor Emad, morador da região, decide armar-se de uma câmera e registrar sua resistência e a dos moradores do vilarejo e suas formas pacíficas de protesto para tentar conservar suas terras.

O dia em que te conheci (Brasil, 2024)

Direção: André Novais Oliveira

Todos os dias, Zeca tenta levantar cedinho para pegar o ônibus e chegar, uma hora e meia depois, na escola da cidade vizinha, onde trabalha como bibliotecário. Acordar cedo anda cada vez mais difícil, mas agora, sua rotina está prestes a ser interrompida quando ele descobre através de Luisa que será demitido. A partir daí, ele acaba desenvolvendo um vínculo inesperado com a colega de trabalho, que após dar a triste notícia, se oferece gentilmente para levá-lo para casa.


Sthefaniy Henriques (E o cinema levou)

Guerra Civil (2024)

Direção: Alex Garland

Disponível: Max

Em um futuro não tão distante, quando uma guerra civil se instaura nos Estados Unidos, uma equipe pioneira de jornalistas de guerra viaja pelo país para registrar a dimensão e a situação de um cenário violento que tomou as ruas em uma rápida escalada, envolvendo toda a nação. No entanto, o trabalho de registro se transforma em uma guerra de sobrevivência quando eles também se tornam o alvo.

Fé Crropida (2017)

Direção: Paul Schrader

O ex-capelão militar Toller sofre pela perda do filho que ele encorajou a se alistar nas forças armadas. Um outro desafio começa quando faz amizade com a jovem paroquiana Mary e o marido dela, que é um ambientalista radical. Toller logo descobre segredos nebulosos de sua igreja com relação a empresas inescrupulosas.

A Noite dos Desesperados (1969)

Direção: Sydney Pollack

Na época da Grande Depressão americana, é criado um concurso de dança que oferece 1.500 dólares como prêmio para o casal que conseguir ficar mais tempo dançando.


Felipe de Souza

O Cremador (1969)
Direção: Juraj Herz

Um homem tchecoslovaco que adora trabalhar em seu crematório começa a seguir o conselho de um antigo companheiro de guerra sobre a importância de sua herança alemã e a questão de sua esposa meio judia.

Essa Doce Palavra: Liberdade (1972)
Direção: Vytautas Žalakevičius

Em um país da América Latina, no início da década de 1970, militares chegam ao poder após um golpe. A população civil é reprimida, e uma onda de prisões ocorre. Ex-senadores, liberais e comunistas, são presos ilegalmente, e jogados na inexpugnável fortaleza militar de San Stefano.

Noite Sobre o Chile (1977)
Direção: Sebastián Alarcón

O filme recria os trágicos acontecimentos ocorridos no Chile no outono de 1973, após o golpe fascista de Pinochet, que derrubou o regime democrático constitucional do país e seu presidente, Salvador Allende.


Viviane Monteiro

O território  (2022)

Direção: Alex Pritz

Disponível: Disney+

O documentário oferece um retrato legítimo do cotidiano e das lutas de uma comunidade nativa na Amazônia brasileira. O povo  Uru-eu-wau-wau, que enfrentaram incursões ilegais de extração de madeira e mineração ambientalmente destrutiva e, mais recentemente, invasões de grilagem de terras. O filme é coproduzido pela comunidade Uru-eu-wau-wau, e traz   os Jovens líderes indígenas e ativistas ambientais, que monta sua própria equipe de mídia independente, arriscam suas vidas para defender a floresta e usando a tecnologia como ferramenta para expor a verdade. O filme  aborda os conflitos fundiários a partir das disputas por terra e recursos naturais. Traz também quanto aos direitos indígenas e luta pela preservação de terras e culturas.

Rede de Ódio /The Hater (2020)

Direção: Jan Komasa

Disponível: Netflix 

O filme traz a história de um jovem depois de ser expulso da Universidade de Varsóvia, o estudante, o mesmo consegue um trabalho no que seria uma agência de Marketing Digital. Nesse lugar sua função é destruir concorrentes de seus clientes  por meio da criação de conteúdos cheios de desinformação e mentiras. 

O filme  aborda temas contemporâneos importantes,  explorando como o ódio e a intolerância podem se espalhar rapidamente nas redes sociais. Como também a divisão e o ódio podem ser explorados para fins políticos, influenciar opiniões.

Princesa  Mononoke(1997)

Direção: Hayao Miyazaki

Disponível: Netflix 

No período do Japão medieval, um príncipe é infectado por um espírito animal durante uma batalha. Para encontrar uma possível cura, ele viaja para o oeste, onde descobre uma disputa entre os habitantes da floresta, liderados pela Princesa  Mononoke e um grupo de exploradores. 

O filme traz uma crítica à destruição da natureza e a exploração desenfreada dos recursos naturais. Além de abordar representações de personagens femininas fortes.


TemQueVer

Assunto de Família (2018)

Direção:  Hirokazu Kore-eda

Depois de uma de suas sessões de furtos, Osamu (Lily Franky) e seu filho se deparam com uma garotinha. A princípio eles relutam em abrigar a menina, mas a esposa de Osamu concorda em cuidar dela depois de saber das dificuldades que enfrenta. Embora a família seja pobre e mal ganhem dinheiro dos pequenos crimes que cometem, eles parecem viver felizes juntos até que um incidente revela segredos escondidos, testando os laços que os unem.

Anjos do Sol (2006)

Direção: Rudi Lagemann

Com menos de 12 anos, Maria é vendida por sua família maranhense, que acredita estar mandando a menina para uma vida melhor. Depois de sofrer num prostíbulo e fugir, ela tem uma reação surpreendente quando a prostituição cruza outra vez seu caminho.

Não se preocupe, ele não irá longe a pé (2018)

Direção: Gus Van Sant

John Callahan (Joaquin Phoenix) é um homem conturbado que, bêbado, bate de carro e sofre um grave acidente. Tetraplégico, ele transforma sua vida, tornando-se um dos cartunistas mais improváveis, ácidos e perseverantes do mundo, usando as limitações físicas para desenvolver uma carreira artística com a ajuda de sua namorada e de um simpático padrinho.

Crédito imagem de capa: Flavia Correia via DALL-E/Olhar Digital

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